O que diz o relatório Top Risks 2022 Eurasia – Parte 2

Todos os anos, o Eurasia Group, empresa de consultoria e pesquisa de risco político, elabora a lista dos 10 principais riscos geopolíticos para o próximo ano. O relatório é de autoria dos presidentes do Eurasia Group, Ian Bremmer e Cliff Kupchan. A C&S abordou no último artigo a primeira parte deste relatório. Agora, seguimos com a análise.

O Top Risks 2022 Eurasia sinaliza ataques israelenses às instalações nucleares iranianas. Isso porque o programa nuclear do Irã avança rapidamente, e com a diplomacia paralisada, o governo Biden tem poucas opções – fazendo com que Israel cada vez mais tome decisões por conta própria. Pressões como essas vão surgir este ano, elevando preços do petróleo e aumentando o risco de conflito.

2022 também será o ano em que a pressão contínua sobre custos de energia vai forçar os governos a favorecer políticas que reduzam esses custos, mas isso atrasará a ação climática. O aumento dos preços da energia irá elevar os níveis de ansiedade tanto para eleitores quanto para os políticos, ainda que exista grande pressão climática sobre o governo. Retrocesso então na questão climática.

Com EUA e China ocupados com prioridades internas, União Europeia, Reino Unido e Japão incapazes de preencher o vácuo de poder, muitos países e regiões devem sofrer com crises não administradas. É o caso do Afeganistão, com um Taleban desorganizado e inexperiente lutando para impedir que o Estado Islâmico atraia militantes estrangeiros para extensões sem governo. Guerras civis criam novos riscos no Iêmen, Mianmar e Etiópia. A Venezuela e o Haiti correm o risco de crises crescentes de refugiados.

Ainda de acordo com o relatório, as maiores marcas do mundo esperam lucros recordes, mas será um ano mais difícil de administrar a política. Consumidores e funcionários, munidos da “cultura do cancelamento” e com a força das mídias sociais, forçam as multinacionais a investir mais tempo e dinheiro em questões ambientais, culturais e políticas.

Sobre o Brasil, o relatório projeta que será um ano extraordinário para a política. A popularidade do presidente Jair Bolsonaro deve cair com a piora da economia, tornando Lula o favorito para vencer as eleições presidenciais em outubro. A expectativa pela vitória de Lula deve desestabilizar os mercados, diante das promessas de maiores investimentos do Estado. Já o desespero de Bolsonaro deve desafiar a legitimidade das instituições democráticas do Brasil. Dizer que a democracia brasileira estaria em cheque, ou que a vitória de Lula trará uma crise de confiança, são projeções exageradas.

A possibilidade de Bolsonaro chegar a um segundo turno contra Lula é grande. Com a perspectiva de derrota, Bolsonaro deve intensificar os ataques aos tribunais, à mídia e ao processo eleitoral brasileiro, na tentativa de manter sua base mobilizada. Caso perca a eleição, provavelmente irá desafiar os resultados, alegando que o pleito foi roubado. Já vimos esse filme antes, não é?

O relatório afirma que a democracia do Brasil não está em risco. O Brasil é democrático, as instituições estão consolidadas e fortes. O Judiciário, governadores, congresso e a mídia são independentes, e qualquer esforço desonesto para derrubar um resultado eleitoral será verificado. Militares não seguirão qualquer tentativa de Bolsonaro de desafiar os resultados eleitorais, e o Supremo Tribunal Federal (STF) tem tomado passos para acabar com o financiamento de grupos online pró-Bolsonaro, que alimentaram mobilizações anteriores e espalham fake news.

A projeção é de que Lula dê uma guinada pragmática na gestão econômica, caso vença. A escolha provável de Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, para a chapa, é um sinal do que está por vir. Lula terá de cumprir promessas de maiores investimentos, o que será compensado com impostos mais altos e uma nova regra fiscal. Diante de uma dívida e carga tributária altas, não são boas notícias. O resultado é um crescimento sem brilho, e um terceiro mandato difícil. Ainda assim, o Brasil se desviaria da sua rota de colapso econômico e político.

O Top Risks 2022 Eurasia está disponível aqui.

Equipe Técnica

Profissionais Multidisciplininares

Fale com o nosso especialista

e deixe sua pergunta.