Viés de Confirmação: como as crenças distorcem a realidade

Viés de Confirmação: como as crenças distorcem a realidade

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17 de dezembro de 2024

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O viés de confirmação é uma das distorções cognitivas mais comuns que impactam o julgamento humano, nos levando a tomar decisões menos racionais e mais emocionais. Antes de falarmos sobre esse viés, é importante entender os dois sistemas de pensamento descritos por Kahneman, para compreender melhor como os vieses operam:

Segundo Kahneman, o cérebro funciona em dois modos complementares: o sistema 1, que é rápido, automático e emocional, e o sistema 2 que é lento, deliberado e lógico. O sistema 1 faz com que tomemos decisões mais rápidas e a reagir imediatamente, em contraponto, o sistema 1 é menos preciso e opera com base em padrões e associações mais superficiais. Já o sistema 2 é detalhado e analítico, exige mais esforço cognitivo e atenção, com isso é naturalmente menos acionado que o sistema 1. Com esse contexto, podemos entender o surgimento dos vieses cognitivos, onde o sistema 1 é mais evidente e domina o pensamento, o sistema 2 não funciona da maneira adequada.

O viés de confirmação é uma tendência automática de buscar, interpretar e lembrar informações que confirmem nossas crenças pré-existentes, ignorando ou descartando evidências contrárias. Esse comportamento é resultado do sistema 1 se sobressaindo no processamento das informações do dia a dia, que busca simplificar a tomada de decisões. Essa simplificação pode levar a julgamentos enviesados e a escolhas equivocadas, especialmente em cenários estratégicos onde a objetividade é crucial.

Por exemplo, um gestor de compras, acreditando que a importação prejudica a indústria nacional, descarta a possibilidade de adquirir um insumo estratégico do exterior, mesmo diante de custos menores e qualidade equivalente. Influenciado pelo viés de confirmação, ele foca apenas nos riscos e desafios da importação, como tarifas e logística, enquanto ignora os benefícios claros e dados que poderiam desmistificar suas crenças. Essa decisão, baseada em convicções pessoais e não em uma análise objetiva, mantém contratos mais caros com fornecedores locais, reduz a competitividade da empresa e limita oportunidades de inovação e crescimento.

Mas como podemos mitigar o impacto do viés de confirmação, especialmente em contextos estratégicos? Embora não seja possível eliminá-lo completamente, existem práticas eficazes para reduzir seu efeito. O primeiro passo é cultivar a consciência crítica, reconhecer que somos todos suscetíveis ao viés nos ajuda a questionar nossas próprias crenças e interpretações. O segundo é buscar ativamente opiniões e informações contrárias às nossas, essa prática desafia nossa visão de mundo e amplia nossa capacidade de análise. Além disso, é preciso basear as decisões estratégicas em dados e fatos, buscando o alinhamento da decisão que está sendo tomada com a estratégia da empresa, sempre com uma visão de como a nossa decisão do momento afetar o longo prazo.

Na empresa, é necessário criar um espaço seguro para o debate. Líderes devem encorajar equipes a oferecer contrapontos e desafiar ideias sem medo de represálias, promovendo uma cultura de feedback aberto. Além disso, é fundamental aprender a acionar deliberadamente o sistema 2 em decisões importantes. Isso envolve dedicar tempo e esforço para analisar dados de maneira objetiva, resistindo à tentação de buscar apenas informações que reforcem nossas preferências.

O viés de confirmação ilustra como nossa mente pode ser ao mesmo tempo uma ferramenta poderosa e uma armadilha sutil. Ele surge da rapidez do sistema 1, mas pode ser mitigado quando ativamos o pensamento crítico do sistema 2. Em uma época marcada pelo excesso de informações e pela polarização de opiniões, reconhecer e combater esses padrões automáticos é crucial para tomar decisões mais racionais e equilibradas.

Nos próximos artigos desta série, exploraremos outros vieses cognitivos que influenciam nossas escolhas e ações. Cada texto trará exemplos do mundo atual e discutirá como identificar e superar essas distorções, contribuindo no processo de tomada de decisões estratégicas. Confira!

AUTOR: Raphael de Paula

Raphael de Paula

Gerente de Estratégia

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