Governança sustentável: discurso em alta engajamento em queda?
Governança sustentável: discurso em alta engajamento em queda?
21 de março de 2024
A governança sustentável está se tornando uma força predominante no cenário corporativo global, marcando uma era em que as questões ambientais, sociais e de governança (ESG) são mais relevantes do que nunca. Apesar do crescente debate polarizado em torno do ESG, um novo relatório indica uma tendência encorajadora: a maioria dos conselhos administrativos, especialmente nos Estados Unidos, está incorporando ativamente o ESG em seus estatutos de comitês de conselho.
Os dados apresentados pelo The Sustainability Board, uma organização sem fins lucrativos que fomenta questões de sustentabilidade, revelam que, embora a competência em sustentabilidade tenha atingido um platô, a governança da sustentabilidade, pelo menos teoricamente, está ganhando terreno.
Desde 2019, o exame anual do envolvimento corporativo com ESG vem sendo realizado, abrangendo 225 empresas globalmente em 2023. Os resultados apontam que a governança da sustentabilidade, documentada oficialmente, está em ascensão, indicando que mais conselhos adotaram a governança sustentável como parte de seus comitês atuais ou criaram comitês especializados para tal.
Frederik Otto, diretor executivo do The Sustainability Board, e a conselheira sênior Jeannette Lichner expressaram suas observações no prefácio do relatório. Eles destacam uma tendência de melhoria no engajamento com o ESG nos últimos cinco anos, que agora parece estar perdendo força. Em um momento definido pela necessidade urgente de ação e implementação, a estagnação é vista como o pior adversário.
O relatório destaca um aumento global na governança da sustentabilidade documentada, de 80% no ano anterior para 88%. Nos Estados Unidos, essa porcentagem é ainda mais significativa, atingindo 95%. Além disso, cerca de 51% dos conselhos nos EUA possuem comitês de ESG “relevantes”, enquanto a média global é de 63%. Houve também um aumento na especificação do ESG nos estatutos dos comitês, crescendo globalmente de 34% para 41%, e nos EUA, de 47%.
No entanto, o relatório não fornece explicações claras para a queda no engajamento, uma tendência preocupante que surge após um período de intensos debates nos Estados Unidos, onde o termo ESG enfrentou críticas severas, principalmente de vozes políticas conservadoras. Notavelmente, 39% das empresas analisadas pelo relatório são dos EUA, refletindo a influência significativa da região nas tendências globais de ESG.
O contexto é complicado pela recente decisão da BlackRock, a maior gestora de fundos do mundo, de abandonar o termo ESG, alegando que ele foi “instrumentalizado”. Além disso, o fenômeno do “greenhushing” – quando empresas minimizam a publicidade de suas credenciais ESG – está se tornando mais comum, levantando questões sobre a transparência e a autenticidade dos esforços de sustentabilidade.
No Reino Unido, o debate tomou um caminho distinto, com críticas ao conceito de ESG como um termo útil para análise ou princípio orientador. Especialistas, como o professor Alex Edmans da London Business School, sugerem abandonar o termo ESG politizado e simplista, incentivando as empresas a focarem na criação de valor de longo prazo.
Os desenvolvimentos políticos também influenciam a paisagem do ESG, como evidenciado pela decisão do governo do Reino Unido de ajustar suas políticas focadas no clima. Essas ações refletem um ambiente desafiador para a sustentabilidade, onde as iniciativas corporativas podem estar à frente das agendas políticas e regulatórias.
As empresas estão avançando com a atenção ao ESG, mas o declínio no engajamento e as controvérsias em torno do termo sugerem que questões mais complexas estão em jogo, exigindo um foco renovado na capacidade de liderança sustentável individual e na implementação efetiva de práticas de sustentabilidade.
FONTE: Board Agenda