Startups passam a oferecer ações como moeda de troca

Em momento de captação de recursos e à espera de investidores, startups estão cortando custos: demitindo funcionários em massa e tomando medidas para preservar o caixa.

Tivemos recentemente lay-offs (como são chamadas as demissões em massa) na Loft, por exemplo. A startup do setor imobiliário desligou 384 pessoas, que representavam 12% do quadro de funcionários. Somando com as demissões registradas pela proptech em abril, já são 543 pessoas demitidas da Loft esse ano.

Os desligamentos de abril aconteceram na área de crédito imobiliário, após aquisição da startup CrediHome, envolvendo troca de ações. Esse movimento de negociação com ações também foi feito pelo grupo Ebanx, que utilizou ativos como parte do pagamento de US$ 229 milhões na compra da fintech Remessa Online, em dezembro do ano passado. Em junho, o Ebanx também anunciou um corte de 20% do quadro de colaboradores, durante reestruturação.

“Com o cenário mundial atual de incertezas e caminhando para uma recessão, as startups estão cortando custos para assegurar liquidez e preservar seu caixa, a controladoria possui um papel fundamental para estruturar as reduções necessárias. As empresas que estão ampliando suas áreas de atuação adquirindo outras empresas estão utilizando da troca de ações, mantendo assim o seu valor de mercado e sua liquidez em caixa”, avalia Daniel Capovilla, especialista da C&S em Controladoria e Planejamento Financeiro.

As ações têm sido um bom recurso para negociações que envolvem empresas em crescimento, sem expor a avaliação de mercado a uma rodada de captação de recursos inferior às anteriores. Isso pode ser feito tanto em aquisições de empresas complementares, como também em fusões de startups do mesmo setor.

Assim, ao unir duas empresas do mesmo segmento utilizando a troca de ações, ambas mantêm o valor, pois não houve entrada de receita. Esse movimento aumenta o tamanho da empresa, que pode futuramente reduzir custos e ganhar fôlego até que uma maior rodada de investimentos ocorra.

“Os ativos vêm perdendo valor no recorte dos últimos 12 meses, não só no Brasil, mas no mundo todo. Esse é um movimento causado principalmente pela alta dos juros, para conter a inflação trazida pela pandemia, e por uma maior aversão a risco, devido ao ambiente político. O movimento afeta em maior grau as empresas de tecnologia, que ainda precisam de liquidez para ganhar tração ou atravessar o vale financeiro do seu ciclo de vida – para que elas consigam viabilizar as transações e seus projetos, a troca de ações é uma alternativa interessante, pois mantém parte do valor do ativo e engaja a empresa para buscar a recuperação do valor no futuro, sempre mantendo seu projeto de crescimento”, comenta Frederico Saraiva, especialista da C&S em Planejamento Financeiro e Análises.

Essa estratégia também é utilizada por empresas de médio e grande porte. É o caso da Dotz, companhia de programas de fidelidade, que utilizou ações como parte da compra da startup Noverde, que atua na simulação de crédito.

“A conscientização das empresas de capital fechado de que suas quotas e ações têm valor e podem através de fusões estratégicas gerar ainda mais valor é extremamente relevante à medida que propicia às organizações novas perspectivas e melhores expectativas para os negócios. Nesse processo a observância das melhores práticas em governança corporativa aliadas ao uso de instrumentos de governança bem estruturados garantem o equilíbrio nas relações entre os stakeholders e conduzem a organização a perpetuidade”, afirma Carolina Siqueira, especialista da C&S em Assuntos Jurídicos.

Diante da desvalorização dos papéis das empresas de tecnologia, a modalidade de troca de ações envolvendo startups tem perspectiva de crescimento. De acordo com dados da Distrito, foram registradas 110 fusões e aquisições de startups brasileiras no primeiro semestre. O número é 7% menor ao registrado no mesmo período do ano passado.

Fonte: Valor Econômico

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