Os desafios do cenário multidimensional ao conselho de governança

Governos do mundo todo lutam ainda para combater a covid-19, após dois anos em pandemia. Economias foram fragilizadas, levadas ao ponto de ruptura, e seguem em prejuízo. Conforme as administrações e autoridades de saúde ajustam os pensamentos para lidar com as variantes que surgem, o trauma econômico segue a acontecer em 2022, apesar da retomada.

A economia vem sendo transformada, mas a pandemia não é a única causa dessa evolução. No âmbito da governança corporativa, por exemplo, a regulamentação se move para adotar fatores ESG (ambientais, sociais e de governança), na Europa, Estados Unidos e Oriente Médio. No Reino Unido, esse ano deve ser de reformas significativas para auditores, e a Bolsa de Valores de Londres deve adotar ações de classe dupla.

Modelos de negócios digitais, segurança cibernética, representação de gênero e minorias étnicas, negócios e direitos humanos deixam sua marca também. São tópicos que integram a agenda de governança de 2022, repleta de questões a serem resolvidas.

A tão falada regulamentação na Europa promete requisitos de relatórios não financeiros para muito mais empresas do que antes (até 50 mil). Vai impor também garantia obrigatória das divulgações, o que é uma grande mudança para muitas organizações. Trata-se de relatórios de Sustentabilidade Corporativa e Governança Corporativa Sustentável.

E falando em relatórios, no Reino Unido, líderes políticos apostaram no uso obrigatório de divulgação climática do TCFD, que se torna obrigatório este ano para grandes empresas privadas, que também devem preparar seus planos de transição para uma economia “net zero”, a qual se tornará obrigatória em 2023.

A COP26 em Glasgow trouxe o lançamento de um projeto para desenvolver padrões globais de divulgações não financeiras. Esses padrões devem ser adotados pelas empresas do Reino Unido.

A reforma da auditoria também deve vir à tona ainda este ano. Está em circulação um white paper de auditoria com centenas de propostas para reestruturação do regulamento e do mercado de auditoria, novas regras para o conteúdo e potenciais sanções para membros do comitê. Esse novo regulamento está em fase de elaboração. Especialistas pedem uma abordagem em fases para mudança. Ao mesmo tempo, querem que o trabalho seja intensificado. Para eles, acertar o ritmo da mudança é importante, já que o papel da auditoria é fundamental para a credibilidade do Reino Unido como mercado de capitais. Essas grandes áreas de reforma empresarial precisam ser implementadas com cuidado.

Sobre a diversidade do conselho, em 2021 o número de empresas no FTSE 350 com pelo menos um membro do conselho de minoria étnica aumentou de 59 para 123. A notícia é boa, mas ainda significa menos da metade dos membros. Investidores afirmam que votarão contra presidentes de comitês que não melhorarem a diversidade étnica. Esse ano, estão em elaboração as novas regras para que as empresas listadas relatem a composição de gênero e etnia de seus conselhos e alta administração, assim como o progresso em relação às metas de diversidade – que apesar de não obrigatórias, estipulam 40% de mulheres nos conselhos e ao menos um diretor “não branco”.

Observadores destacam uma ligação cada vez mais estreita entre diversidade na sala de reuniões e a busca de uma agenda ESG sólida. Quando a COP26 foi lançada, o grupo de campanha Relatório do Conselho de Sustentabilidade revelou pesquisas que apontavam que as mulheres estavam conduzindo a agenda ESG em muitas empresas através da presidência de comitês importantes. Fica cada vez mais claro que um bom desempenho em uma área ESG, como meio ambiente, é sustentado por bom desempenho sólido em outras áreas, como a cultura, onde a diversidade é um núcleo componente.

Como sempre, a tecnologia tem um papel cada vez mais importante. Seja blockchain, inteligência artificial ou plataformas web para conectar clientes e fornecedores, esse desenvolvimento foi acelerado pela pandemia. Mas, os negócios conduzidos pela TI levantam preocupações. Com ampla falta de conhecimento sobre essas tecnologias, os recém-chegados escapam em grande parte da regulamentação do mercado, e exercem a governança em benefício próprio. O resultado disso é a insegurança, desigualdade, e maior domínio dos acionistas.

Outra preocupação é a segurança cibernética. Deve ser publicada ainda este ano a Estratégia Cibernética para enfatizar a necessidade de governo, empresas e universidades trabalharem juntos em segurança cibernética. De acordo com especialistas, o tema deve se tornar uma questão de governança ainda maior ao longo de 2022, já que muitas partes do governo inglês, por exemplo, apertam os controles e pedem que tribunais estabeleçam novos precedentes em termos, multas e penalidades.

São diversas as questões de governança a serem consideradas ainda em 2022. Além de todas essas que citamos aqui, há ainda o estabelecimento do propósito corporativo e a governança das partes interessadas como a estrutura de pensamento dominante para profissionais de governança. O cenário tornou-se multidimensional, exigindo novas habilidades e conhecimentos. A adaptação ao ESG é vista por muitos como mudança de paradigma do próprio capitalismo.

Podemos concluir que a agenda de 2022 pode ser a mais exaustiva da história da governança corporativa.

Fonte: Board Agenda

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