O que diz o relatório Top Risks 2022 Eurasia – Parte 2

Todos os anos, o Eurasia Group, empresa de consultoria e pesquisa de risco político, elabora a lista dos principais riscos geopolíticos para o próximo ano. O relatório é de autoria dos presidentes do Eurasia Group, Ian Bremmer e Cliff Kupchan. Esse aqui é o segundo episódio do Cenário Relevante em que você confere mais alguns desses principais riscos para 2023.

Ondas de choque de inflação que começaram nos EUA em 2021 e se consolidaram em todo o mundo em 2022 fazem parte da lista. O fator terá poderosos efeitos econômicos e políticos em 2023, segundo o relatório. A alta de preços deve ser o principal motivador da recessão global, aumentando o estresse financeiro e elevando o descontentamento social e político.

A inflação histórica que vivemos hoje é consequência de diversos fatores, como a pandemia de covid-19, que levou governos a amortecer a queda nas receitas com estímulos fiscais extraordinários, enquanto não havia oferta global. No momento em que os EUA e a Europa saíam da pandemia, com as vacinas, a China dobrou a aposta na política de covid-zero e bloqueou centros de manufatura e transporte mais importantes da economia mundial. Com a invasão da Ucrânia pela Russia, em resposta a isso, somado com as sanções do Ocidente, colocaram pressão sobre o oferecimento global de energia, alimentos e fertilizantes.

É esperado que a pressão popular por políticas fiscalmente insustentáveis em um ambiente de recessão, torne mais intensos os problemas da dívida e desencadeie a instabilidade do mercado – entre eles Reino Unido, Itália, Brasil, Colômbia e Hungria.

Outro risco é a paralisação do desenvolvimento global. As últimas duas gerações humanas experimentaram rápida expansão e prosperidade muito ampla – algo sem precedentes. A economia mundial triplicou de tamanho, quase todos os países ficaram mais ricos de forma significativa e mais de 1 bilhão de pessoas saíram da pobreza extrema e agora agregam a classe média global. Isso diminui a lacuna de oportunidades entre as nações em desenvolvimento e industrialmente avançadas. Os indicadores de desenvolvimento humano vão desde a mortalidade infantil, expectativa de vida, até a educação e direitos das mulheres.

Todo esse progresso foi revertido durante três anos, quando tivemos mutuamente a pandemia de covid-19, a guerra da Rússia com a Ucrânia e o aumento da inflação global. Segundo estimativas das Nações Unidas, perdemos cinco anos de progresso no desenvolvimento humano nesse período. Em 2023, bilhões de pessoas estarão mais vulneráveis, já que a economia, a segurança e a política estão fragilizadas.

As ondas de choque globais da inflação, que trouxemos anteriormente, vão afetar em especial as populações vulneráveis nos países em desenvolvimento, por conta do aumento de preços, condições financeiras mais rígidas e desaceleração do crescimento global alimentarem a ansiedade pública – e consequentemente política.

Outro risco é a divisão política nos Estados Unidos. Embora as pré-eleições em 2022 tenham interrompido o que levava a uma crise constitucional, os EUA continuam sendo uma das democracias industriais avançadas mais politicamente polarizadas e disfuncionais do mundo. E essa crescente polarização partidária continua a corroer a legitimidade das principais instituições federais. Com isso, o poder político é devolvido aos estados, e surgem contrastes na direção polícia do país.

Um ambiente que se torna cada vez mais desafiador para empresas acostumadas a pensar nos EUA como um mercado coerente e com regime regulatório previsível. Estados já competiam por investimentos corporativos através de pacotes de incentivos, mas agora, a briga é sobre questões como regulamentações ambientais, sociais e de governança – o ESG. Tal divergência torna o planejamento de investimentos de longo prazo mais difícil para empresas americanas e estrangeiras.

O boom do TikTok é também um risco para 2023. Isso porque a Geração Z tem expectativas, demandas e impulsos políticos mais amplos do que seus antecessores – incluindo uma forte desconfiança em instituições tradicionais. A geração não é só racial e etnicamente diversa, como é fortemente progressista, com questões de gênero, racismo estrutural e desigualdade econômica.

Temos hoje muitos ativistas naturais, que estão dispostos a faltar da aula ou ao trabalho para protestar contra políticas governamentais sobre mudanças climáticas, porte de armas e justiça social. E as instituições educacionais e empresariais precisam se ajustar a essa visão de mundo.

A Geração Z está redefinindo os ambientes de trabalho, pressionando empresas a incorporar mudanças fundamentais na forma de recrutamento, organização, retenção e desenvolvimento de talentos. Além de abraçar novas carreiras e oportunidades, promover diversidade e inclusão, etc.

Fonte: Eurasia Group

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