O que diz o relatório Top Risks 2022 Eurasia – Parte 1

Todos os anos, o Eurasia Group, empresa de consultoria e pesquisa de risco político, elabora a lista dos 10 principais riscos geopolíticos para o próximo ano. O relatório é de autoria dos presidentes do Eurasia Group, Ian Bremmer e Cliff Kupchan.

A falta de liderança global caracteriza nosso mundo G-Zero ainda mais nesse início de 2022. Para aqueles que ainda não estão familiarizados com o tema, G-Zero é uma nova desordem geopolítica, na qual o Ocidente perde cada vez mais influência e cúpulas restritas, como o G7, assumem representação insignificante. Assim, organizações internacionais como a ONU e a Otan são cada vez menos decisivas, e nenhum protagonista global consegue preencher esse vazio. O resultado disso é um mundo cada vez mais instável.

O primeiro tópico trazido é “Não à política zero-Covid”. Ainda vivemos a pandemia, e o fim desse cenário depende de onde você mora. Segundo o relatório, o fim está próximo para aqueles que estão no mundo desenvolvido. A variante Ômicron, altamente transmissível, colide com populações altamente vacinadas de forma eficaz, além de tratamentos contra a covid. É por isso que a pandemia deve se tornar endêmica para economias avançadas ainda no primeiro semestre de 2022. Mesmo assim, até no mundo desenvolvido, a ressaca econômica da pandemia perdurará este ano com cadeias de abastecimento interrompidas e inflação persistente.

A China, principal motor do crescimento global, deve enfrentar variantes altamente transmissíveis da Covid, isso sem as vacinas mais eficazes e com menos pessoas protegidas por infecções anteriores. A política chinesa não conterá infecções, levando a surtos maiores, o que exigirá bloqueios mais severos. Isso significa maiores rupturas econômicas, menor consumo, e população insatisfeita.

Países em desenvolvimento serão os mais afetados, e os governantes sofrerão o impacto. A demanda por doses de reforço em países mais ricos dificultará a disponibilização ampla de imunizantes. Novos surtos vão desacelerar o crescimento econômico dos mercados emergentes. Deste modo, a Covid continuará a impulsionar a instabilidade política e econômica.

O mundo tecnopolar também é tema do relatório. O termo faz referência a um conflito cada vez maior entre governos e as maiores empresas de tecnologia do mundo sobre quem vai definir as regras no espaço digital, que desempenha um papel essencial em nossas vidas e políticas.

Bremmer e Kupchan alertam que, hoje em dia, as maiores empresas de tecnologia do mundo decidem muito do que vemos e ouvimos. Essas empresas têm grande responsabilidade sobre a criação de oportunidades econômicas e formação de opiniões sobre assuntos importantes. Legisladores da Europa, China e América vão apertar a regulamentação da tecnologia este ano. Contudo, a Big Tech continuará a fazer e aplicar a maioria das regras na esfera digital.

O problema, de acordo com os autores do relatório, é que os gigantes da tecnologia ainda não podem controlar com eficácia as ferramentas que são criadas ou os espaços que são ocupados em expansão. A desinformação afeta a fé pública na democracia, e conforme empresas de tecnologia e governos não chegam a um acordo sobre proteção e privacidade de dados, a segurança cibernética e o uso seguro e ético da inteligência artificial, as tensões sobre essas questões entre EUA, Europa e China continuarão a crescer.

O terceiro tópico discutido trata das provas intermediárias dos EUA. Em novembro, republicanos devem reconquistar o controle majoritário da Câmara dos Deputados, e pode ser que do Senado também. Se assim acontecer, democratas verão o controle do Partido Republicano como resultado ilegítimo de uma campanha de supressão de eleitores, e republicanos verão a vitória como mais uma prova da suposta fraude eleitoral de 2020. A confiança do público nas instituições políticas americanas sofrerá um golpe ainda maior.

Essas avaliações intermediárias trazem significado para as eleições presidenciais de 2024. Donald Trump sinaliza que irá concorrer e tem chances de vencer. O relatório sugere um cenário mais complexo no caso de uma derrota por parte de Trump. Com a vitória dos republicanos tanto na Câmara quanto no Senado em novembro deste ano, Trump iria contestar uma derrota em 2024, com possibilidade de anular a eleição presidencial, gerando uma crise constitucional. Por isso, as avaliações intermediárias de 2022 são primordiais para o futuro da democracia dos Estados Unidos.

Mais um risco sinalizado pelo relatório Top Risks 2022 Eurasia é o da política zero Covid e planos de reforma do presidente chinês Xi Jinping desestabilizarem os mercados e as empresas neste ano. A visão de Xi Jinping de autossuficiência tecnológica, segurança econômica e harmonia social, com objetivo de tornar a China forte, colide com uma pressão cada vez maior do Ocidente, uma economia desequilibrada e uma população que envelhece rapidamente, em um momento em que as variantes da covid-19 continuam a circular.

Fonte: Eurasia Group – Top Risks 2022

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