Multinacionais devem migrar da China, e BID crê que Brasil seja o foco

Após décadas investidas em negócios com fornecedores de insumos na Ásia, multinacionais americanas e europeias agora podem fazer mudanças. Com dificuldades de logística trazidas pela pandemia, as companhias passaram a considerar fornecedores mais próximos. Para o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Maurício Carone, o movimento deve ser encarado como grande oportunidade pelo Brasil e outras economias latinoamericanas.  

À frente do BID desde outubro, Carone participou recentemente de um encontro em Madri com empresários ibero-americanos. Na ocasião, falou sobre o apoio do banco a investimentos na América Latina. Em outro momento, em São Paulo, realizou uma apresentação a representantes de empresas de diversos países, onde explanou sobre investimento em infraestrutura no Brasil.  

Em entrevista ao Valor, disse que um ponto-chave na pandemia colocou em alerta muitas empresas no Ocidente. No início da crise causada pela covid-19, a China praticamente fechou-se para o mundo e bloqueou temporariamente as exportações. Quem se deu bem foram os empresários que dependiam mais das linhas de abastecimento no eixo latinoamericano, pois o fluxo foi mantido. Isso trouxe maior preferência das multinacionais pelo que o BID batizou de estratégia “nearshore”, privilegiada em relação à estratégia “offshore”.  

Custos de produção em plantas chinesas também pesam na decisão. No passado, serviram de incentivo poderoso para atrair a manufatura global, mas agora os valores não são mais tão baixos. Segundo Carone, uma sondagem recente feita com empresas americanas que se abastecem na China, mostrou que quase 35% das empresas ouvidas já estão tomando medidas ou considerando tomá-las para mudar a cadeia de fornecimento.  

Como exemplos de setores no Brasil que poderiam ampliar a participação global como fornecedores, foram citados fármacos, têxteis, biocombustíveis e microchips. A mineração, que já tem seu espaço na América Latina, seria uma atração especial com as grandes reservas de cobre no Chile e Peru, e de lítio em outros locais. Há também os minerais das terras raras, que são insumo para painéis de energia solar.  

Ele afirma que seria mais lógico o Brasil, tendo a segunda maior reserva do mundo desses minerais, ser o líder, a referência. Com a oferta local de insumo mineral, a produção dos painéis poderia migrar para a América Latina, inclusive. 

É parte das tarefas do BID fomentar investimentos e apoiar projetos de desenvolvimento e criação de empregos na América Latina. Mas da mesma forma que as companhias americanas focaram na China ao longo das últimas décadas, a China também movimentou-se em direção às economias do Cone Sul. Chinesas de diversos setores se estabeleceram aqui.  

É importante ressaltar que Carone foi escolhido para o BID após uma forte mobilização do governo Trump, quebrando a tradição de latinos no banco. Ele é americano, com origem cubana.  

Para o presidente, a ascensão da presença do capital chinês na América Latina se descreve em empresas americanas que estiveram menos interessadas na região e mais na China ao longo dos últimos 30 anos, além de que os  investimentos americanos e europeus não cresceram de forma expressiva na região como tiveram do outro lado do mundo. Ele acredita que a China soube aproveitar as oportunidades.  

Ele cita como exemplo o desmantelamento da Odebrecht, líder em infraestrutura da região. A situação criou mais uma oportunidade para a China.  

O BID se mostra otimista com a economia brasileira, com expectativa de aceleração do investimento estrangeiro e aumento do ritmo de exportações. 

FONTE:  valor.globo

Equipe Técnica

Profissionais Multidisciplininares

Fale com o nosso especialista

e deixe sua pergunta.