Economia verde enfrenta escassez de recursos

Em meio à corrida pela sustentabilidade, empresas, investidores e governos do mundo todo assumem compromissos ambiciosos para reduzir o impacto ambiental e social negativo das operações. O problema está nos gargalos causados por essas ações, que refletem nos recursos, infraestruturas e capacidades dos quais essas organizações dependem.

Apesar da expansão da oferta desses recursos relacionados à sustentabilidade, impulsionada pelo investimento e à inovação, o rápido crescimento da demanda pode ultrapassar a oferta, aumentando a concorrência e elevando preços.

Portanto, no fim das contas, o mundo está entrando em um período de escassez, impulsionado justamente pela sustentabilidade, que traz novas oportunidades mas também carrega novos riscos, junto com o potencial para mudar a dinâmica de mercado em muitos setores na próxima década.

Um bom exemplo pode ser o crédito de carbono. Muitas empresas apostam nesses créditos como ponte de curto prazo ou estratégia primária de longo prazo, na tentativa de compensar as emissões de gases de efeito estufa. Contudo, é prevista uma escassez significativa na disponibilidade de crédito de carbono para a próxima década. Então, mesmo em cenário conservador, a oferta líquida de créditos que chegam ao mercado anualmente ficará abaixo dos 300 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 2030. Essa escassez de mercado pode se acentuar quando combinada aos déficits dos anos anteriores, enquanto as empresas lutam para compensar emissões atuais e históricas.

A escassez iminente de sustentabilidade também é visível em outras categorias, como plásticos reciclados, entradas de bateria, hidrogênio verde, e algodão sustentável. Pegando o caso desse último recurso, a maioria das marcas de moda de grande porte já se comprometeu a usar 100% algodão sustentável até o final de 2025. Porém, em 2018, apenas 21% do algodão em todo o mundo era cultivado de forma sustentável. Especialistas do setor não acreditam que o fornecimento do algodão sustentável se expanda rápido o suficiente para atender à demanda, diante de desafios financeiros enfrentados pelos pequenos agricultores ao adotar práticas de cultivo sustentáveis.

Empresas com visão de futuro já tentam garantir os recursos que serão necessários, antes que a escassez de sustentabilidade se torne uma realidade. Apple, Tesla e Volkswagen já garantiram acesso a suprimentos futuros de metais essenciais por meio de contratos de longo prazo com produtores. A Nestlé e a Unilever investiram U$ 30 milhões e U$ 15 milhões, respectivamente, em um fundo de private equity que investe e apoia o desenvolvimento de empresas na cadeia de valor da reciclagem de plásticos. Já a Pepsi e a Coca-Cola investiram também massivamente em alternativas de plásticos, educação do consumidor e infraestrutura de reciclagem para superar a escassez prevista das garrafas PET.

Identificar e antecipar gargalos críticos é fundamental para que as empresas tomem as medidas necessárias e aliviem as restrições, transformando-as em vantagem competitiva. As companhias precisam desenvolver um portfólio de respostas estratégicas e táticas para reduzir riscos e capitalizar oportunidades.

Respostas possíveis podem ser a garantia de fornecimento por meio de contratos de longo prazo com fornecedores novos ou existentes; forçar a inovação a transformar restrições em oportunidades; extrair valor por meio de preços em produtos que dependem de materiais sustentáveis; ampliar o mercado através da defesa de políticas públicas e investimentos que possibilitem a inovação tecnológica, ampliem a oferta ou incentivem alternativas de insumos potencialmente escassos; agir coletivamente para catalizar ou participar de coalizões da indústria e assim lidar com restrições de oferta.

Esses movimentos podem tornar os modelos de negócios mais duráveis, mas só vão criar vantagem competitiva e valor por serem integrados à estratégia de negócios e à inovação do modelo. Pode parecer negativo buscar lucro e vantagem na sustentabilidade, mas é isso que vai impulsionar o potencial inovador da economia corporativa para acelerar a agenda da sustentabilidade.

É sempre importante ressaltar que o planeta enfrenta um momento crítico em termos de sustentabilidade. Investidores aumentam o foco em ESG, consumidores exigem cada vez mais transparência e responsabilidade, e governos estabelecem metas enquanto empresas assumem compromissos ousados.

Para que tudo saia como o planejado, é fundamental que as ações sejam iniciadas rapidamente, mapeando planos para cumprir as promessas. Empresas devem garantir os insumos necessários e capturar o valor que os novos modelos de negócios sustentáveis oferecem. Além de beneficiar as companhias, as medidas também aceleram o investimento mundial e o desenvolvimento de recursos escassos, que são o caminho para um futuro sustentável.

Fonte: Harvard Business Review

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