Adaggio compra catálogos de músicos para receber royalties e potencializar rendimentos

O Adaggio, fundo gerido pela Arbor Capital, levantou R$ 60 milhões para comprar catálogos de músicos, com objetivo de receber os royalties que vão para o artista cada vez que alguém reproduzir determinada música. A operação, na prática, é uma antecipação de recebíveis. O artista cede o direito de receber futuros royalties para a Adaggio, em troca de uma liquidez imediata.

A ideia é encabeçada por João Luccas Caracas, que além de estar à frente do fundo, o CEO é também compositor e instrumentista. Ele conta que está em contato com os maiores ídolos dele, e acha espetacular a possibilidade de trabalhar as músicas e ressignificá-las para os fãs.

O mercado de direitos autorais musicais movimenta mais de R$ 2 bilhões ao ano no Brasil. Metade desse valor vem das plataformas de streaming, e o restante é proveniente da execução pública, que ocorre quando a música é tocada na rádio, num show ou numa propaganda. Apesar do lucro, o setor é virtualmente inexplorado no ponto de vista do mercado de capitais – o Adaggio é um dos primeiros fundos abrindo essa frente.

O fundo planeja trabalhar com metade da estrutura de capital na forma de dívida, e terá poder de compra de R$ 120 milhões. Também será feita a gestão dos catálogos para aumentar os rendimentos, batendo na porta de rádios, buscando marcas que queiram utilizar as músicas, sugerindo regravações, etc. Todas essas medidas para que o catálogo seja cada vez mais monetizado.

O Adaggio faz diligência em 60 catálogos que, juntos, valem cerca de R$ 250 milhões. São músicas de todos os estilos, como MPB, sertanejo, rock e gospel. Vale ressaltar que o valuation das composições vai além das planilhas de Damodaran, já que os múltiplos variam de acordo com cada artista. A matemática está presente no cálculo, mas também é necessária sensibilidade e conhecimento cultural para saber as chances das músicas serem regravadas ou utilizadas. É o que explica Frederico Saraiva, especialista da C&S em planejamento financeiro e análises.

Há os catálogos mais antigos, que contam com hits que não param de tocar há mais de 30 anos. Esses podem alcançar múltiplos de dois dígitos no lucro. Artistas mais recentes acabam valendo menos, mas isso não significa pouco. O Adaggio ajuda o artista, as editoras e as gravadoras, fora a remuneração paga na assinatura do contrato. As obras acabam rendendo mais do que antes, graças ao trabalho realizado pelo fundo. É um negócio em que todos ganham: o investidor, o artista e os envolvidos na produção.

Mas afinal, quem trabalha na análise dos catálogos?

É claro que são pessoas do ramo. Especialistas como Edison Coelho – veterano com mais de cinco décadas na indústria fonográfica, e Eduardo Vasconcellos, que acumula 20 anos na editora da Sony, a Sony Publishing.

Uma curiosidade interessante é que o Brasil é um dos países com maior consumo da própria música. Na contramão, cada play em uma plataforma de streaming traz ao artista brasileiro cerca de um terço do lucro que gera para um profissional americano. Isso acontece por conta do Real depreciado, baixo número de usuários pagantes no Spotify, o português não ser uma língua global, e a lei sobre o chamado “direito moral” – que limita a liberdade do comprador em monetizar a música como desejar.

De acordo com a Forbes, o mercado global de direitos musicais movimentou mais de US$ 12 bi nos últimos 10 anos, tendo a maior parte das atividades ocorrido em 2016. O potencial do mercado pode ser exemplificado por David Guetta, que acaba de vender todo o catálogo dele para a Warner Music. O valor da venda ultrapassou US$ 100 milhões e engloba todas as gravações feitas pelo artista nas duas últimas décadas.

Guetta é um dos primeiros a vender gravações próprias, que são administradas separadamente da composição de uma música. A maioria dos artistas não possui direitos das músicas gravadas, o que costuma ser cedido às gravadoras. A transação também inclui um acordo para compra de futuras gravações do DJ, que já vendeu mais de 50 milhões de álbuns na carreira. A novidade deve ajudá-lo a trabalhar melhor o catálogo e continuar a construir a trajetória como artista.]

Fonte: Brazil Journal

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