A pandemia vai acabar com o suprimento Just-In-Time?

Uma pesquisa recente afirma que a fabricação Just In Time está sob ameaça de interrupções pandêmicas. Mas a oferta Just In Time está realmente condenada? Um novo estudo afirma que a interrupção contínua pode ser a sentença de morte para os modelos de cadeia de suprimentos Just in Time. Os fabricantes que antes contavam com esse modelo, agora encontram maneiras de se tornarem mais resilientes e menos expostos a futuros riscos trazidos por imprevistos, como a pandemia.

O estudo realizado pela Make UK envolveu 228 empresas britânicas de manufatura. Delas, 35% dizem planejar a mudança para fornecedores nacionais, como forma de combater as interrupções da cadeia de suprimentos internacional. Um número semelhante, 31%, dizem que planejam realocar parte ou toda a produção para o Reino Unido.

Assim acontece em todos os países. Você pode realizar a mesma pesquisa em qualquer território e encontrará resultados parecidos, mesmo levando em consideração o fator Brexit no Reino Unido.

O modelo Just In Time existe há mais de 70 anos e atendeu muito bem milhares de empresas nesse período. Será mesmo que ele está condenado? Vamos rever a história do modelo antes de traçar alguma projeção.

O Just In Time, também conhecido como “manufatura enxuta”, surgiu na década de 1950. O CEO da Toyota, na época, ficou chocado com a quantidade de desperdício e falta de inovação que testemunhou durante uma visita à fabricante de automóveis em Detroit. Ao retornar ao Japão, cortou o excesso de estoque e passou a encomendar componentes e peças de reposição somente quando necessário. O resultado disso foi a economia e eficiência, o que impulsionou a montadora na tabela de classificação, ultrapassando as americanas.

Foi aí que a Toyota percebeu que a fabricação Just In Time pode reduzir custos e aumentar a eficiência. Uma empresa produz um item somente sob encomenda, com o objetivo de manter o estoque baixo. Uma alternativa ao modelo de produção padrão baseado em estoque, onde a empresa solicita materiais a granel, produz o máximo possível de uma remessa e volta a fazer esse processo quando o estoque começar a reduzir.

O modelo Just In Time é utilizado hoje em dia pela Apple. O CEO, Tim Cook, detesta inventário. Em declaração à Forbes, disse que considera os inventários fundamentalmente uma má ideia, já que o estoque é como produtos lácteos e ninguém quer comprar leite estragado.

Cook entrou na Apple em 1998, quando a empresa estava em declínio. Menos de um ano depois, já dava lucro, graças a introdução do modelo de fabricação que ele havia supervisionado em seu tempo de atuação na IBM. Dessa forma, os fornecedores de cadeia de suprimentos da Apple reduziram de 100 para 24, e o número de depósitos caiu pela metade.

Hoje, a Apple pode entregar o estoque uma vez a cada cinco dias. A capacidade de lançar, fabricar e enviar milhões de iPhones para o mundo todo, praticamente sem excesso de estoque, é considerada um milagre do Just In Time.

Contudo, o relatório da Make Uk sugere que o modelo é suscetível a choques de oferta e demanda, o que aconteceu algumas vezes nos últimos dois anos. Milagres como o da Apple têm sido mais raros, mas não tão escassos quanto o fornecimento de microprocessadores que rodam os iPhones da empresa. A escassez de mão de obra também afetou a capacidade da Apple em entregar os produtos com tanta velocidade, e isso fez com que a meta do quarto trimestre não fosse cumprida – derrubando US$ 6 bilhões de sua receita.

Os modelos Just In Time mais atingidos pela pandemia são os de mercearia, mercadorias em geral e bens de consumo embalados. Fornecedores não conseguiram acompanhar o aumento repentino da demanda por matérias primas e os varejistas não foram reabastecidos com rapidez para acompanhar a volatilidade da demanda. Depender de modelos Just In Time agressivos expôs as empresas a uma degradação de desempenho a mais.

Não há grandes dúvidas sobre um estoque baixo aumentar os resultados de uma empresa, mas administrar um negócio dessa maneira exige muita coordenação. Tudo precisa estar perfeitamente sincronizado, desde o fornecimento da matéria-prima até a garantia de entrega pontual. Esses atos de alta velocidade sofrem complicações em situações adversas, como a pandemia, o que traz oscilações graves.

Mesmo assim, ainda que as interrupções na cadeia continuem por muitos anos, conforme o previsto, é improvável que seja o fim da fabricação Just In Time. Porém, sua natureza será modificada. A Apple, por exemplo, se programa para começar a desenvolver seus próprios chips, em vez de depender de terceiros. A empresa nunca abandonará o modelo que alimentou seu status de marca mais reconhecida do mundo, apenas irá reduzir o risco e aumentar a resiliência.

Da mesma forma, outras empresas irão restaurar a produção, fazendo com que os modelos Just In Time sejam menos propensos a um golpe causado pelas adversidades da oferta. Há também o fator da digitalização que, se implementada de forma adequada, torna as cadeias de suprimentos muito mais ágeis e capazes de suportar interrupções sérias e prolongadas.

Fonte: Supply Chain Digital

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